PENECTOMIA E URETROSTOMIA COM ABLAÇÃO ESCROTAL EM UM CANINO COM TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL

ALISSON SILVA DOS SANTOS, Rodrigo Ercolani da Silva Guterres, Silvia Lopes da Costa, João Pedro Scussel Feranti

Resumo


As principais indicações da penectomia total com uretrostomia são os traumas, necrose secundária à parafimose, priapismo e protrusão peniana crônica, além de neoplasmas em pênis e prepúcio. Lesões neoplásicas difusas no prepúcio, pênis e escroto, demandam tratamentos cirúrgicos radicais e invasivos. Quando há grande extensão de perda cutânea e de mucosa, ou lesão aos ramos vasculares prepuciais e dorsais do pênis, a amputação se faz necessária. Foi atendido, um canino, macho, poodle, sete anos, tendo como principal queixa clínica um aumento de volume progressivo na região genital há três meses, com histórico de hematúria há um ano. No exame clínico geral observaram-se mucosas normocoradas, aumento de volume no pênis e saco escrotal, estando esse já ulcerativo, além de dor à palpação. Após a avaliação macroscópica foi sugerido ao tutor, a penectomia, ablação escrotal e uretrostomia. Como exames complementares foram obtidos hemograma e testes bioquímicos (fosfatase alcalina, ureia e creatinina) estando estes dentro dos valores normais para a espécie. Na medicação pré-anestésica foi administrado morfina (0,5 mg.kg-1, IM), realizando-se bloqueio regional (epidural) com associação de lidocaína (2 mg.kg-1) e morfina (0,1mg.kg-1). A indução anestésica constou de propofol (6 mg.kg-1, IV) e a manutenção foi obtida a base de isoflurano vaporizado em O2 a 100%, em circuito semifechado com respiração assistida. O animal foi colocado em decúbito dorsal, realizou-se a tricotomia do campo operatório e oclusão do anus com sutura em Bolsa de Tabaco. Após antissepsia do campo operatório e colocação dos panos de campo, realizou-se incisão cutânea elíptica ao redor do prepúcio, estendendo-se caudalmente ao escroto, logo, realizou-se a ablação escrotal e orquiectomia. Na sequência, dissecou-se o tecido subcutâneo e fez-se a ligadura das veias e artérias dorsais penianas com náilon monofilamentar 3-0. O pênis foi e seccionado transversalmente, caudal ao osso peniano, realizando-se sutura contínua simples com náilon 2-0, sobre a túnica albugínea peniana. Realizou-se a uretrostomia escrotal, suturando a mucosa uretral na pele com náilon 4-0 em padrão isolado simples. Após a uretrostomia, realizou-se a síntese do tecido subcutâneo com náilon 3-0 em padrão colchoeiro em cruz e em padrão contínuo simples, seguido da síntese cutânea em padrão colchoeiro horizontal interrompido com náilon 4-0. O tecido removido foi fixado em formol e enviado para a análise histopatológica. O protocolo terapêutico no pós-operatório constou de Ceftriaxona (30 mg.Kg-1, IV, BID), Tramadol (5 mg.Kg-1, SC, TID), esses administrados por sete dias e Meloxicam (0,2 mg.Kg-1, IV, SID) por três dias. O animal foi mantido sondado e com o colar elisabetano, realizando-se a limpeza da ferida duas vezes por dia, com Cloreto de Sódio 0,9%, durante o período de internamento (dez dias) sendo que, no sétimo dia foi retirada a sonda uretral. A análise histopatológica revelou tratar-se de um Tumor Venéreo Transmissível (TVT). O TVT é uma neoplasia contagiosa de origem mesenquimatosa, e sua disseminação ocorre geralmente por contato sexual, porém também pode ser disseminado através do contato prolongado com superfícies contaminadas de outros animais. Entre as condutas terapêuticas utilizadas para o tratamento do TVT, as mais preconizadas são a criocirurgia, radioterapia, ressecção cirúrgica e quimioterapia antineoplásica. Estudos apontam que a excisão cirúrgica pode resultar em um controle a longo prazo embora seja um procedimento cruento e possua um índice relativamente alto de recidivas. A quimioterapia citotóxica apresenta ser uma abordagem menos cruenta e com menor número de recidivas, porém, quando há maior comprometimento da área afetada, este tipo de tratamento é utilizado com a pretensão de reduzir o tamanho do tumor para posteriormente submetê-lo à exérese cirúrgica. Neste caso, a abordagem cirúrgica imediata, como tratamento terapêutico, mostrou-se suficiente tendo em vista que, o animal não apresentou recidivas ou metástases. A amputação peniana total associado à uretrostomia escrotal constituiu uma alternativa de tratamento cirúrgico radical e invasivo frente às afecções penianas e prepuciais difusas, fazendo-se necessário amplo conhecimento da anatomia do paciente e experiência com técnicas cirúrgicas reconstrutivas e urológicas para se obter sucesso no tratamento.

Palavras-chave


Penectomia, uretrostomia, ablação, tumor

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