PLANTAS TÓXICAS EM GRANDES ANIMAIS: IDENTIFICAÇÃO, PREVENÇÃO E IMPACTOS NA PRODUÇÃO ANIMAL

Gabrielle Caon de Almeida, Luciana Paim Trindade, Letiele Oliveira da Silveira, Luiza Faccin Barros Coelho, Júlia Prates da Cunha

Resumo



 A ocorrência de plantas tóxicas em sistemas de produção animal representa um importante desafio sanitário e econômico para a pecuária, causando consideráveis perdas diretas e indiretas ao produtor, dado que no Rio Grande do Sul, estima-se que as intoxicações sejam a causa de uma parcela expressiva de mortes em bovinos anualmente.

A intoxicação ocorre principalmente por ingestão acidental dessas plantas, por diversos fatores como a escassez de forragens, fome, transferência de animais para áreas infestadas, palatabilidade de algumas espécies e associação com forragens desejáveis. A ingestão dessas plantas pode resultar em quadros agudos e crônicos, com manifestações neurológicas, digestivas ou hepáticas.

A correta identificação dessas plantas e a implementação de estratégias de manejo das pastagens e controle de espécies vegetais tóxicas são fundamentais para mitigar prejuízos econômicos e assegurar a sanidade dos animais.

Palavras-chave:Intoxicação, pecuária, toxicologia.


INTRODUÇÃO

   No Rio Grande do Sul, estima-se que 10% a 14% das mortes em bovinos por ano sejam decorrentes de intoxicação por plantas tóxicas (Riet-Corrêa et al., 2007). Diante disso, o reconhecimento e identificação destas plantas são fundamentais para a produção animal pois permitem a adoção de medidas preventivas que evitam intoxicações e perdas econômicas significativas diretas e indiretas (Riet-Corrêa; Fioravant; Medeiros, 2017).

   A relevância do tema “Plantas Tóxicas em Grandes Animais: Identificação, Prevenção e Impactos na Produção Animal” justifica-se pela sua importância para a saúde animal e pelos impactos econômicos associados às intoxicações. A dificuldade de identificação por parte dos produtores e trabalhadores rurais contribui para a recorrência de casos clínicos, os quais podem levar a perdas expressivas.

   Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo geral promover a conscientização sobre os riscos associados às plantas tóxicas. Como objetivos específicos, propõe-se identificar as principais espécies tóxicas da região, descrever seus efeitos nos animais e desenvolver um material didático acessível em formato de livro/chaveiro e um cartaz ilustrativo com fotos e nomes das plantas, que facilitem o reconhecimento visual dessas plantas e auxiliem na adoção de práticas preventivas no manejo do rebanho.


METODOLOGIA

   O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, descritiva e exploratória, fundamentada em revisão bibliográfica. A coleta de dados foi realizada por meio da análise de materiais acadêmicos, como livros, artigos científicos, manuais técnicos e publicações oficiais relacionados às plantas tóxicas que acometem grandes animais, bem como, seus impactos na pecuária. A metodologia objetivou sistematizar informações referentes à identificação das principais espécies tóxicas, seus princípios ativos, sazonalidade, efeitos clínicos causados, distribuição geográfica e formas de prevenção.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

   O estudo possibilitou identificar e caracterizar as principais espécies de plantas tóxicas que acometem grandes animais no Rio Grande do Sul. Todas são amplamente distribuídas na região e representam um importante desafio sanitário e econômico para a pecuária (Riet-Corrêa et al., 2017). 

   Verificou-se que a maioria das intoxicações está relacionada à escassez de forragem e ao manejo inadequado das pastagens, o que leva os animais a consumirem plantas que normalmente evitariam. A degradação do solo e o superpastejo favorecem a proliferação dessas espécies, (Pedroso et al., 2007).

   Dentre as espécies estudadas, destacaram-se aquelas de ação hepatotóxica, como Senecio spp., Cestrum spp. e Echium plantagineum, cujos princípios ativos, principalmente os alcalóides pirrolizidínicos e saponinas, causam lesões hepáticas graves e progressivas (Karam, 2020). Essas intoxicações são responsáveis por quadros crônicos, levando a redução da produtividade e, frequentemente, à morte dos animais.

   As espécies Baccharis coridifolia e Nierembergia hippomanica apresentam efeitos agudos, provocando distúrbios digestivos e neurológicos que evoluem rapidamente para o óbito, especialmente em bovinos não adaptados às áreas infestadas (Rissi et al., 2005; Odini et al., 1995).

   Por sua vez, Melia azedarach e Amaranthus spp. apresentam toxicidade variável de acordo com o estágio de desenvolvimento da planta e a quantidade ingerida. O Melia azedarach, rico em meliatoxinas, causa quadros neurológicos e digestivos agudos (Méndez et al., 2002), enquanto o Amaranthus spp. atua de forma cumulativa, provocando lesões renais e distúrbios metabólicos decorrentes da presença de oxalatos (Tokarnia; Döbereiner; Vargas, 2000).

   O Trifolium repens, embora amplamente utilizado como leguminosa forrageira, também pode causar timpanismo espumoso devido à formação de espuma estável no rúmen, comprometendo a eliminação de gases. Os sinais

clínicos incluem aumento de volume abdominal, dispnéia, dificuldade de eructação, decúbito e, nos casos graves, morte súbita, podendo ser acompanhada de protrusão retal e vaginal, edema de cabeça e protrusão da língua (Dalto et al., 2009).

   Já Pteridium aquilinum, conhecido como samambaia, é apontado como uma das principais causas de intoxicação crônica em ruminantes no Brasil. Seus compostos tóxicos, tiaminase e ptaquilosídeos, têm efeito carcinogênico e hematúrico, levando ao desenvolvimento de hematúria enzoótica e carcinomas no trato urinário (Tokarnia; Döbereiner; Vargas, 2000).

   A elaboração do livro/chaveiro e do cartaz educativo, produtos finais do projeto, revelou-se uma ferramenta eficaz de extensão rural, conforme proposto nos objetivos específicos do estudo. Os materiais, produzidos com linguagem acessível e imagens ilustrativas, possibilitam o reconhecimento rápido das espécies tóxicas em campo e contribuem para a redução dos casos de intoxicação e das perdas econômicas associadas.

   De modo geral, os resultados obtidos confirmam que a identificação precoce das espécies tóxicas, constitui uma das principais estratégias de prevenção (Riet-Corrêa; Fioravanti; Medeiros, 2017). O manejo adequado das pastagens, a erradicação das plantas nocivas e o monitoramento dos períodos críticos de brotação são práticas indispensáveis para garantir a sanidade e o bem-estar dos rebanhos, prevenindo perdas produtivas e econômicas significativas (Assis et al., 2010).


CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

   Diante do exposto, conclui-se que as plantas tóxicas representam um desafio significativo para a pecuária, ocasionando sérios prejuízos sanitários, produtivos e econômicos. A correta identificação das espécies presentes nas propriedades, aliada ao conhecimento dos mecanismos de toxicidade e dos sinais clínicos associados, é fundamental para a adoção de medidas preventivas eficazes.

   Portanto, aprofundar o conhecimento sobre as plantas tóxicas, seus impactos e formas de prevenção contribui não apenas para a redução das perdas econômicas, mas também para a promoção do bem-estar animal.



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Referências


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